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Madrid
(leia em
"madrilenho" Espanha)
teve eleições. Umas eleições, conforme fôrom definidas pela
direita e como acabou no final, entre a liberdade de "tomar
umas
cervejas"
(1) ou o
socialismo de
cuidar da saúde numa pandemia. Uma Comunidade que sumou mais horas
de bares abertos e de excesso de mortes estatísticas em relação
aos anos anteriores, escolheu a primeira.
É
preciso dizer também que esta eleição, com um resultado tão
claro, foi facilitada por uns meios de comunicação que construírom
uma realidade paralela de dados económicos e de saúde, quase sem
oposição escrita. Uma realidade
paralela (2) que convenceu os já
convencidos (a elite madrilena) e a muitas pessoas abafadas pelos
graves problemas de saúde e económicos decorrentes de uma crise
terminal do sistema económico neoliberal e de uma crise sanitária,
ambas as duas graves.
Uma
vitória que é a vitória duma direita que tem algumas diferenças
substanciais com a direita do resto do PP. Porque Madrid, como bem
que nos repete Ayuso, é Espanha, não a capital da Espanha, mas a
“Espanha”, a sua essência e a sua materialização à vez, o
lugar ao que os
melhores espanhóis conseguiram aceder, ainda que inicialmente
tivessem o infortúnio de terem nascido em províncias. Graças,
claro, ao capitalismo do mérito e ao centralismo ... ao
centralismo também de mérito, é claro.
Porque há algo melhor para
ter éxito na
vida, que viver em Madrid, deixar de ser de províncias, um paleto da
Coruña, Jaén, Barcelona, Teruel ...? (¿ainda
existe Teruel?) (3)
Existe algo mais legal que ser da elite madrilena, essa classe social
tão cheia de magníficas cópias de
“assholes”
(4) como Aguirre
ou a própria Ayuso? (vamos entender a palavra como objeto de análise
e debate científico sobre certas formas de ver o mundo, ver
referência).
Coido
que isso nos dá algumas pistas sobre a vitória do PP de Ayuso. Em
primeiro lugar, é o mesmo PP que o de Casado, aquele que queria se
desmarcar do abraço de urso de Vox? É o mesmo que o de Feijoo, esse
que agora terá de provar que se ele não foi a Madrid não é por
serem um fracassado, mas porque ... porque ... ¿Porquê? O que é
que a Galiza e o PP da Galiza pintam ante o PP de Madrid-Espanha?
Pergunto-mo seriamente, qual é o papel económico da Galiza, ou da
região atlântica e/ou a cantábrica da península no esquema
Madrid-Espanha? O que se passa, por mencionar algo, com uma energia
produzida na Galiza mas consumida, mais barata, nesse
"Madrid-Espanha" e sem ter de sofrer as consequências
ecológicas e sociais da sua produção, e tendo a sede social da
empresa produtora? Ou, para assinalar algo também importante, o que
pinta a Galiza perante um PP que defende os "touros" como o
máximo legado "cultural" do espírito espanhol para o
mundo? (entendendo por espanhóis toda a península agás, pelo menos
por agora, Portugal). Parece que como diz Ana
Pontón (5) (BNG): “Cada dia fica mais evidente que Madrid não
é a solução, faz parte do problema” e isso não facilita
o“trabalho” a um PP galego. E algo semelhante poderia-se dizer
doutros “PPs”.
Mas
numa competição, quando alguém ganha, alguém perde. E quem perdeu
em Madrid? Ok, todos nós sabemos, perdeu a esquerda. Claro que
Podemos aumentou o número de votos e escanos. E Mas Madrid também,
e ainda mais do que Podemos. E que passaria se o PSOE do "homem
tranquilo" tivesse mantido os 13 escanos que tinha? Ou pelo
menos tivesse obtido a metade dos escanos perdidos pelo Ciudadanos (o
mesmo número maldito, 13)? A esquerda sumaría71 cadeiras, sendo 69
a maioria absoluta. A derrota é, claro, da esquerda, mas centra-se
no PSOE, um PSOE que jogou justamente para "centrar-se",
para ser menos de esquerdas do que já é. Um PSOE que até deixa de
ser o mais votado para ser ultrapassado pela "descentrada"
Mónica García, de Más Madrid.
Precisamente
Mas Madrid é quase o único do bloco da esquerda que tem novas para
celebrar e mostra quanto (a meu ver) a clareza importa, começa a
importar: Um trabalho sério na Assembleia de Madrid, uma atitude
menos radical nas formas, mas mais radical no fundo, sem medo a
defender com firmeza propostas como a renda básica do mesmo jeito
que a sanidade, a educação, os cuidados ... Suficientes, Universais
e Incondicionais.
Porque
em tempos de crise sistémica, quando todo um modelo, o
neoliberalismo, está a rematar, não há equilíbrio entre mantê-lo
a todo custo ou acabar com ele, não se pode defender o centrismo e a
equidistância quando se tem que escolher entre os “assholes” de
quem falei antes ou as pessoas
normais. Se te
esforças em ficar calmo, calado, em não te molhar, ninguém
acreditará em ti e poucos te votarão. Pela contra, é preciso
defender, sem alarde, mas com firmeza, as linhas mestras que vão na
direção da mudança. Porque ou há mudança (pacífica, firme,
radical no fundo) ou há barbárie. Neste momento, não há meias
tintas.
Unidas
Podemos também sobe, algo que
provavelmente devemos agradecer ao sacrifício pessoal de Pablo
Iglesias. São três escanos mais que em 2019, mas o resultado ainda
é muito ruim. A consequente renúncia de Iglesias mostra uma grande
coerência política e pessoal, honestidade e coragem. Chega ao seu
fim uma tentativa de articular o 15M em termos de estruturas
organizativas do século XX? Esperemos que Yolanda Díaz, educada nas
mesmas estruturas, seja capaz de superá-las.
E,
por fim, uma reflexão de Mónica
García (6)
“Começa a conta para trás das
eleições de dentro de dous anos, começo a trabalhar esta noite”.
Porque
temos que seguir
buscando e alcançando soluções para os graves problemas deste
sufocante, decadente e predatório sistema neoliberal.
Porque
ao cambio (pacífico, firme, radical no fundo) ainda continua a ser
possível e necessário.
Ligações
(1)
Análisis de Ignacio Escolar, eleccións:
https://www.eldiario.es/escolar/victoria-ayuso-revoluciona-tablero-politico-nacional_132_7899800.html?mc_cid=5caee4bc12&mc_eid=63bd7c4f83
(2) Análisis de Iganicio Escolar, as mentiras de Ayuso:
(https://www.eldiario.es/escolar/mentiras-ayuso-libertad_132_7880588.html)
(3) Teruel Existe:
https://gl.wikipedia.org/wiki/Teruel_Existe
(4) Asshole: A Theory, de Aaron James
https://www.casadellibro.com/libro-assholes-a-theory/9780804171359/6793074
(5) Ana Pontón:
https://twitter.com/anaponton/status/1389683765811765249?ref_src=twsrc%5Etfw
(6)Mónica García
https://praza.gal/politica/o-pp-seguira-gobernando-madrid-reforzado-por-unha-contundente-vitoria-electoral